Anpof - associação nacional de pós-graduação em filosofia

SAMUEL SCOLNICOV (1941-2014) τῶν κρειττόνων τινὸς ἔκλειψις γέγονεν (Plutarch, Moralia 419f) Samuel (Shmuel) Scolnicov nasceu em Porto Alegre, cidade na qual passou os primeiros anos da sua vida. Ainda criança, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde viveu até 1959, quando emigrou para Israel. À época, muitos jovens judeus brasileiros foram viver naquele país, atraídos pelo generoso ideal de reconstituição da pátria hebraica em termos de trabalho e de igualdade. Um desses jovens foi Samuel. Na pátria por opção, ele estudou filosofia. O seu doutoramento foi realizado na Universidade de Cambridge (Reino Unido). A vida como professor e pesquisador teve lugar no Departamento de Filosofia da Universidade Hebraica de Jerusalém, onde ele foi assistente (lecturer, 1974), adjunto (senior lecturer, 1978), associado (associate professor, 1991) e titular (professor, 2005), aposentando-se (como emeritus) em 2009. A atividade filosófica de Samuel concentrou-se, sobretudo, em Platão, estendendo-se naturalmente ao tema do humanismo em educação. Os seus numerosos estudos em filosofia grega tornaram-no famoso internacionalmente, o que o tornou visitante de universidades como Harvard, Catânia, São Paulo, México e Toronto. Pertenceu a várias sociedades de filosofia, tornando-se presidente da International Plato Society (1998-2001). Casado com Hanna Scolnicov, uma conhecida especialista em Shakespeare, Samuel teve três filhos: Anat, Ariel e Haggai. Anat é jurista e ensina em Cambridge, Ariel e Haggai são tecnólogos de alto nível na área de computação. A família Scolnicov é intensamente intelectual, mas com interesses variados. Por isso mesmo, a sua casa em Jerusalém sempre recebeu, com muita hospitalidade e amizade, professores e pesquisadores dos mais diversos países. Apesar de ter deixado o Brasil ao final dos anos 1950, Samuel sempre preservou fortes laços pessoais com este país, ao qual voltou por inúmeras vezes, sobretudo para cursos e conferências de filosofia grega. Ele falava o português como se aqui vivesse e acompanhava cuidadosamente a produção literária brasileira. Era surpreendente vê-lo recomendar, competentemente, livros brasileiros a visitantes brasileiros. Na sua casa, ele mantinha peças de artesanato nacional em posição de destaque. Israelense por opção, Samuel sempre foi visto pelos brasileiros que com ele privaram como um autêntico compatriota. Acadêmico competente, exemplar pai de família e amigo inesquecível, Samuel Scolnicov fará muita falta. Nelson Gomes Gabriele Cornelli